28.7.06

O retorno - 1

Cheguei à conclusão, após 30 anos de experiências não veadas de convivência com as pessoas, de que os mendigos não são humanos. Mendigos normais, desses sujos que aparecem volta e meia na rua, mão estendida querendo algum. Não são muitos os que concordam comigo, mas baseio-me em várias teorias para confirmar a minha. Estou absolutamente certo do que digo, sem mais. Proust gostava de dizer que o ser humano é um cérebro que sonha e leva o corpo pra passear. Portanto, um ser humano deve sonhar. E sonhar é lutar, é buscar o que se quer. Um mendigo sabe que nunca será capaz de realizar um sonho. É um inútil. Uma vida que nada vale. Não é capaz sequer de lutar. Wilde dizia que o ser humano podia resistir a tudo, menos às tentações. Onde estão as tentações do mendigo? Cachaça, alguns dirão. Isso não é tentação, é vício. Não conta. Tentação são mulheres loiras, claras e olhos azuis em programas de TV quase desnudas. Mendigo não vê TV. Tentação é Big Mac. Mendigo não come. Tentação é roleta, bacará, blackjack. Mendigo nem inglês entende! Então, não é humano. Twain dizia que o ser humano é um cachorro que morde quem o alimenta. O mendigo não se alimenta. Não tem sequer dente! Portanto, pode estender a mão sem medo da mordida. Segundo esses conceitos, podemos concluir que mendigos não são nem perto dos humanos. Por outro lado, senhores responsáveis como Malluf são humanos. E dos mais dignos. Ele sonha, sonha alto com a prefeitura de São Paulo. Ele tem milhões em contas no exterior. Dizem que roubou. Roubou não, caiu em tentação. Não resistiu. Segundo Wilde, é humano. Além de tudo, cansou de morder as mãos, os pés e os bolsos da população que o elegeu. E também mordeu a mão dos cabeças de seus partidos. Tendo tudo explicado, é fato: Um mendigo não é humano. Paulo Malluf, por outro lado, é. E da melhor espécie. publicado originalmente em www.porradaneles.zip.net, em 8/05/2004 Certas coisas nunca mudam. Às vezes, muda-se o nome sem mudar o texto. Outras vezes, nem isso.