20.12.07

Artes Marciais

O homem, ao contrário do que crêem alguns individualistas, não existe como uma forma solitária de vida. O homem existe em sociedade. É por meio das suas práticas diárias que o homem marca sua presença no mundo e marca sua presença frente aos outros seres humanos. É por meio de sua vivência que o homem se aproxima ou se afasta dessa Unidade de que fazemos parte.
Creio de coração que as artes marciais são uma forma de aproximar o homem tanto dos outros seres humanos quanto dessa Unidade amorfa, seja ela chamada de "Natureza", de "Cosmos" ou "Deus".
Mas o que significa essa definição, "artes marciais"? O que ela nos traz de importante para nossa vivência diária? O que suas filosofias têm a nos ensinar?
As filosofias das artes marciais são, em geral, bastante complexas, porém acessíveis a todos dispostos ao treinamento. E nisso reside, ao meu ver, toda sua simplicidade e beleza. As filosofias das artes marciais (falo "filosofias", no plural, pois é impossível enquadrar numa unidade estilos tão diferentes entre si, mesmo que haja alguns aspectos em comum) não estão restritas a uns poucos iniciados, nem estão segregadas numa torre de marfim que limita o acesso a poucos "escolhidos". Não, não. A única exigência que as artes marciais impõem a todos aqueles que desejam desvendar seus segredos é o esforço. O acesso à beleza, às filosofias, aos modos de viver das artes marciais está ligado ao esforço de cada um, à luta, à vontade pessoal de seguir por esse caminho, muitas vezes árduo, mas cujo esforço ao final é extremamente compensador.
É por isso que o termo "artes" vem acompanhado do termo "marcial". A arte, a beleza, a maravilha desse mundo não pode deixar de lado seu caráter "arriscado", seu caráter árduo, seu caráter marcial. As lutas, as batalhas cotidianas, o momento do embate junto ao adversário (porém não inimigo) são, ao mesmo tempo, uma forma de superação humana, superação dos próprios limites e uma forma de desenvolver o respeito. A derrota tem a nos ensinar tanto quanto a vitória; é preciso saber ganhar tanto quanto saber perder.
Nisso reside a beleza das artes marciais. Esse é um exemplo do que elas têm a nos oferecer.
O taekwondo, como não poderia deixar de ser, também tem muito a nos ensinar no dia-a-dia. Todo praticante da arte marcial coreana já teve contato com seus princípios básicos:
1) Cortesia
2) Integridade
3) Perseverança
4) Auto-controle
5) Espírito indomável.
Tais princípios resumem a filosofia do taekwondo.
Cortesia no dia-a-dia, no trato com os colegas, no trato com os desconhecidos, no trato com os mais velhos e com os mais novos. É a cortesia que possibilita o respeito, que traz a tolerância e desenvolve a paz interior e a paz junto aos demais seres humanos. A cortesia é o elo que une as comunidades em torno da convivência pacífica e possibilita o exercício da felicidade.
A cortesia, porém, deve ser acompanhada da Integridade. É preciso manter-se íntegro, manter-se fiel aos próprios princípios. É preciso não desviar-se do caminho da honestidade e da bondade. Manter íntegro significa não-dividir, manter íntegro significa manter uno o espírito e os princípios que o regem. A humanidade que todos devemos conservar no coração depende de mantermos íntegro nosso espírito e nosso corpo, evitando lesões que os prejudiquem, evitando desvios que maculem nossa conduta.
Se a cortesia no trato deve ser acompanhada da integridade no corpo/espírito, a manutenção do estado de perfeição depende de uma contínua Perseverança. É preciso ser perseverante para conquistar seus objetivos, é preciso não desistir jamais de tentar mudar. E, mais importante, é preciso não desistir de conservar. Deve-se manter os princípios que possibilitam nossa integridade, deve-se lutar para mudar os defeitos que nos corrompem. Perseverança no dia-a-dia, nos treinos, nas atitudes. Desistir, nunca! A luta é constante, diária, eterna. Nada é pior do que a naturalização dos maus hábitos. Deve-se manter um eterno esforço pela mudança do que é ruim e pela manutenção do que é bom.
Porém, o ser humano que desconhece a si próprio não é capaz de direcionar corretamente o esforço e a conduta na direção do bem. O Auto-controle diz respeito ao quanto nos conhecemos. Conhecer os próprios limites é importantíssimo. Controlar as próprias emoções, controlar a ânsia que busca a guerra, controlar a vontade de desistir que nos acomete de quando em quando, controlar a raiva que em segundos destrói o que apenas anos de esforço conseguem construir.
Por fim, sem o Espírito Indomável, sem essa chama que vem não sabemos de onde e que toma nossos corações e nossas mentes, nosso espírito e nosso corpo, nossa vida e nossos sentimentos, enfim, sem essa força misteriosa que impulsiona nossa vida, sem esse Espírito Indomável, não existiríamos enquanto humanos. Ser humano é ser recipiente desse Espírito, é saber que há forças no nosso interior que muitas vezes desconhecemos, e que não podem ser controladas por ninguém. Essa força é que nos impulsiona, é essa força que faz com que nos entreguemos com amor àquilo de que gostamos, àquilo que significa "felicidade".
Os princípios do taekwondo são princípios da vida. São princípios do ser humano. São princípios que nos tornam pessoas melhores, valorizam nossas forças, consolidam as relações sociais que nos tornam humanos. O taekwondo tem muito a nos ensinar, e devemos estar preparados para aprender.
Seguem abaixo as graduações do takwondo, acompanhadas pelas definições de cada faixa.
Graduação:
Branca (10º e 9º Gub): Pureza. Como o iniciante sem prévio conhecimento de taekwondo. O papel onde será traçado seu caminho.
Amarela (8º e 7º Gub): Terra. Brilha a riqueza da terra, onde a planta fixa sua raiz. A base do taekwondo se está firmando.
Verde (6º e 5º Gub): Planta. A técnica começa a se desenvolver no aluno de taekwondo. A planta começa a brotar. Inicia-se o percurso rumo aos céus. A altura dependerá da firmeza das raízes.
Azul (4º e 3º Gub): Céu. Para onde a planta se dirige, seu objetivo, o símbolo de suas incontáveis possibilidades. Amadurecimento da técnica do aluno. O horizonte torna-se cada vez mais amplo: é a liberdade.
Vermelha (2º e 1º Gub): Sol. Alerta ao aluno sobre a necessidade de autocontrole, bem como ao seu oponente para manter-se afastado. O crescimento rumo aos céus traz o perigo de queimar-se ao sol. O horizonte à vista traz consigo a consciência do longo caminho que resta a percorrer. A liberdade traz consigo responsabilidade; para si e perante a academia. Assim como o sol, o aluno torna-se um símbolo para seus colegas, um eixo a ser seguido, uma referência pela qual se guiarão. Novamente, aqui, o alerta.
Preta (1º dan): Universo. Maturidade e conhecimento. Atravessado o limite do horizonte e prevenido dos perigos do sol, o aluno cresce rumo a um novo destino. Desprega-se das raízes, embora nunca as esqueça. Leva consigo as sementes para plantar em outras paragens. Assim como o universo, as possibilidades de crescimento são infinitas. Porém, sem a necessária experiência e a correta consciência do caminho, o aluno pode se perder na vastidão do universo. Trata-se de um novo começo.