29.9.07

Record News

A Record acaba de lançar seu canal de notícias 24 horas, a Record News. Sem tocar na questão da obsessão do mundo jornalístico brasileiro pelo News - como se a palavra em inglês, por si só, conferisse credibilidade à notícia - , fico bastante intrigado por uma rede de notícias vinculada a, bem, uma igreja.
Sou defensor da liberdade de expressão e construção intelectual, o que significa aprendizado sem vinculações institucionais. Em outras palavras, acho um contra-senso, por exemplo, vinculação acrítica a uma corrente única de pensamento, a um governo ou a uma igreja. Vejam bem: não recuso a afinidade teórica por esta ou aquela corrente, a afinidade a posicionamentos políticos ou a qualquer religião. Estas afinidades não julgo incompatíveis com o pensamento libertador. A vinculação institucional, por outro lado, só consigo ver como prejudicial a tal pensamento.
A rede da Igreja Universal é um negócio de outro mundo (sem trocadilhos). Na relação consumidor-produto, não há nenhum melhor (para os que vendem, é claro): se o "produto" dá certo - ou seja, se a vida do sujeito muda pra melhor, ou a salvação lhe chega na forma de mensagem divina - a Igreja sai fortalecida, pois que tudo lhe é creditado (ainda, claro, que tal igreja não tenha influência em tal mudança pela qual o sujeito em questão passou). Por outro lado, se o "produto" é defeituoso - ou seja, se a salvação não vem - a Universal se isenta da culpa, porque a responsabilidade por tal defeito é do "consumidor" - do fiel. "Ora, mas é claro que lhe faltou fé, faltou acreditar, irmão! Mais fé, mais doação, mais esforço! Aleluia!"
De todo modo, a Universal não sofre abalos, só fica mais forte. Ou se fortalece pelo sucesso ou pelo fracasso do fiel, num discurso que, de maneira invertida, acaba paradoxalmente também fortalecendo a instituição.
Daí minha desconfiança com essa nova emissora. Ora, não sou ingênuo: é claro que, como dizia Foucault, todo discurso está ligado e é uma forma de manifestação do poder. Aí estão os jornalistas da conjuntura atual que não me deixam mentir: ou ligados ao discurso governista, ou ligados aos clichês oposicionistas. Não me lembro de um só jornalista que transitasse pelo meio, que valorizasse ou criticasse as propostas de governo pelas propostas em si, e não pelo governo.
Alguém pode esperar um bom jornalismo da Record News. Eu não espero. Tomara que seja agradavelmente surpreendido.