2.7.07

Confiança (2).

Para entender este texto, talvez fosse melhor ler o de baixo primeiro. Não que este seja exatamente uma continuação daquele. Em certos aspectos até é. Trata-se de um recorte, uma reflexão sobre um ponto no conjunto a que me referi naquele texto. É isso.
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Falei da confiança. Falei por que considero importante confiar. Há muitos e muitos textos falando sobre os benefícios da dúvida, sobre sua importância para a construção e renovação do conhecimento. Concordo. Mas não há muitos falando sobre a importância da confiança cega. Porque duvidar não existe por si só. Duvidamos porque trocamos um julgamento A por um B. Em algum dos dois temos que confiar. Sem confiança, resta o niilismo.
E qual a importância de se confiar em história? Confiar nos documentos, nos relatos, nas fontes? Mais ou menos: a confiança, nessa parte, é altamente seletiva. Confiamos em alguma fontes e não em outras. O que hierarquiza o nível de confiança é o olhar do historiador, são suas certezas, suas hipóteses, sua metodologia, sua corrente teórica (talvez sejam estas duas os mais importantes fatores de decisão). Confia-se e desconfia-se das fontes, num cabo-de-guerra permanente.
Confiar na historiografia? Fundamental, embora boa parte dessa confiança também seja nada além do olhar do historiador. Confiamos no autor A e não no B por diversas razões, dentre as quais o compartilhamento de determinada corrente (olha ela aí de novo).
Confiar em quê mais? Ora, confiar nas interpretações. E aqui é onde eu queria chegar: sem confiança nas interpretações não há história. A pesquisa histórica se dá sobre outras pesquisas previamente realizadas. Desconfiar de uma delas é fazer ruir todo o caminho sobre o qual nossa interpretação é elaborada. Confiar em interpretações é elaborar o conhecimento.
Esse é um risco da história. Por isso alguns negam à história seu caráter científico. Bobagem. Qual é a ciência que está livre das interpretações?