29.12.07

Ser humano.

Foi em 2003, entre o natal e o ano-novo. Semana morna, quando tudo se move com uma lentidão pouco usual. Quase não venta. O banho gelado é quente. A praia é ótima.
Uns dias de paz na serenidade do fim de ano. Muitos dias de trabalho rendendo alguns momentos de completa tranquilidade. Poucas preocupações. Ideal seria extingui-las por completo. E o sujeito consegue descansar totalmente a cabeça?
A tarde que cai em tons avermelhados lembra uma pintura de Kaitou Yandai que vi há bastante tempo. Nem lembro se o nome do pintor era mesmo esse. O traço que o avião deixou quando passou casa perfeitamente com a falange de pássarios que voa ordeiramente à procura da liberdade. As nuvens são contornor amorfos, mas se prestar atenção as figuras se forçam em desenhos bastante precisos. Tanta precisão é um sinal da existência do Criador, sem sombra de questionamento.
As manhãs são inexistentes na semana entre o natal e o ano novo. Os estudantes, na verdade, praticamente se afastam da manhã. O horário de verão engana. Manhã começa às 05:00h e termina quando o agradável aroma de uma refeição leve, porém saborosa, deixa a cozinha e se insinua pelos espaços da imaginação do garoto que se diverte na piscina. O churrasco fica pronto na varanda. Já passa das 12:00h.
Não acordo cedo porque durmo tarde, ora bolas. Há quem diga que só vale o aproveitar a vida pela manhã. Quem o diz desconhece o sereno, os cheiros e as formas da madrugada. Noites quentes no verão, alguns insetos que perdem as asas em torno na lâmpada que emite um amarelo tão quente quanto a noite que embala as emoções. Quem precisa da manhã?
A praia é tão maravilhosa quanto os arcos sinuosos que as petecas descrevem de um idoso para o outro. Há uma rede no caminho que é ignorada. Habilidade natural mistura-se à experiência. O neto dá os primeiros toques, mas corre para o mar. Ou para o futebol, que certamente é melhor jogado no fim da tarde, sob aquela aquerela vermelho-vivo de Kadou Amarai. Ou algo que o valha.