15.6.07

Nenhum futuro historiador deveria se surpreender com a passagem do tempo. Mas nenhum ser humano deveria ser indiferente a ela.
Não sei quando mais dói constatar que o tempo, diferentemente do que nos acostumamos a sentir, passa. Não tenho qualquer bagagem, e duvido que alguém tenha suficiente, pra sequer começar a falar sobre isso.
Talvez a dor seja especialmente cruel na passagem dos dez pros vinte. Daqui a 3 dias, completo 22 anos. E dói. Não por uma clássica imagem saudosa do que eu era, do que o mundo era, do que vivi, do que curti. Não dói pelo que fui, dói pelo que não me tornei.
As vivências deveriam levar o ser humano à melhoria material, espiritual, intelectual. Não levam. Quem dera fosse o mundo uma via de mão única rumo à perfeição, à consolidação de todas as potencialidades humanas. Quem dera fosse certa a presença de um ente superior guiando nossos passos rumo ao paraíso. Quem dera fosse certa apenas a garantia de acordar amanhã melhor do que hoje.
O que não me tornei está relacionado ao que eu esperava, há uns 4 ou 5 anos, que me tornaria 4 ou 5 anos depois. Essa teorização da vida sempre nos acompanha. Se por um lado nos serve de guia, nos orienta quando nos sentimos perdidos, indicando aquele lugar para onde sonhamos nos dirigir, por outro nos leva à inevitável frustração de dever incompleto.
Eu esperava chegar ao 22 anos com muitas coisas, sendo muitas coisas. Não tenho (não me refiro ao material) nem sou metade, e isso considerando apenas as escolhas que se mantiveram (por exemplo, há 4 anos eu nem esperava fazer história; há 3, queria ser um jornalista com cultura histórica; há 2, queria ser um misto de artista/cineasta/crítico/historiador; há 1 queria ser um professor-doutor. Isto pelo menos ainda se mantém.).
Pena que muitas pessoas (seria "muitas" um eufemismo?) jamais cheguem a ser aquilo que esperavam ser. E pena, também, que muitos cheguem onde não esperavam chegar. Pena que deva ser nessas condições: ou a ilusão ou a desesperança.
O que, podem perguntar, esperaria uma pessoa se tornar com apenas 22 anos? Acabei de reler e relembrar várias coisas. Reli poemas antigos que nem lembro quando escrevi. Reli comentários sobre coisas que escrevi, mas preferia não ter escrito. Relembrei pessoas que estavam à minha volta em cada passagem de tempo. Relembrei origens de várias maneiras de encarar o mundo, bases de minha formação que jaziam esquecidas.
Desnecessário falar sobre o que me levou a essa nostalgia e a esse texto. Só queria deixar registrada num espaço virtual algumas palavras que não vou revisar. Despreocupado com questões acadêmicas, com preocupações profissionais, com pendências pessoais, ficam palavras que recordam momentos anteriores a tal situação. Crescer é parte disso. Crescer traz consigo outras dimensões. Dimensões que não desejo recusar, apenas gostaria de encará-las, vivê-las, aprender com elas, sempre sem me esquecer de onde vim, de onde aprendi, em que acreditei. Os últimos 4 anos passaram muito depressa. Daqui a um ano nem imagino onde estarei. Decerto não onde espero, hoje, estar. Decerto não onde esperava, no passado, estar.
Se a melancolia parece inevitável, se o que passou já é passado e o que não me tornei não pode me assombrar, espero apenas deixar levar sem mágoas, sem frustrações. Há um momento por aqui perto, não gostaria de perdê-lo.