13.11.06

Filosofia da Práxis. Humana?

A filosofia da práxis é uma coisa bastante perigosa. Não porque eu esteja debaixo da cama tremendo devido ao "perigo vermelho", nem porque eu esteja armado até a gengiva, apenas esperando aquele bando de desocupados invadir minha propriedade privada de estimação. Não, nada disso. É um perigo para o ser humano em sua auto-afirmação. É um perigo para o espírito mais do que para a carne.
A filosofia da práxis, como a entendo, é um meio de elevar a condição humana a todo seu esplendor. É a ação humana combinada a uma poderosa ferramente de auto-reflexão. É a ação aliada à teoria. É o compromisso com a beleza, com a presença humana e com sua capacidade inestimável.
Aí é que justamente mora o perigo. O caminho que leva à beleza da auto-afirmação é o mesmo que leva à arrogância desenfreada. Ao dogmatismo despercebido. Ao oposto do que prega a filosofia da práxis, enfim.

A ação humana, mesmo envolta na poderosa armadura da reflexão passo-a-passo, contunua sendo ação humana. Limitada, inacabada, parcial. O ser humano é um ser inacabado, já diria Paulo Freire no Pedagogia da Autonomia.

Engraçado como a autonomia que prega a filosofia da práxis passa, necessariamente, como bem aponta Paulo Freire sem o dizer, pela consciência desse inacabamento. Perdida a consciência, perdeu-se a autonomia. O ser humano torna-se, então, refém de suas convicções inabaláveis, que podem ser muito boas para reforçar a ação, mas perigosíssimas para o espírito livre.

A filosofia da práxis necessariamente deve ser uma atitude permanente, jamais estacionada. A cada nova perspectiva corresponde uma mudança, exigindo um novo ponto de vista e uma nova revolução interior, ad infinitum.

O perigo da filosofia da práxis, por incrível que pareça, não é um problema da filosofia em si, mas de nossa limitação humana, de nossa ânsia pela verdade e da arrogância com que debatemos, dentro ou fora da academia, buscando impor nossa verdade aos outros (e aqui cabe lembrar Foucault e a "vontade de verdade" que acompanha o discurso). Seres humanos que podem expandir-se ao máximo, caso deixem de lado essas pequenas cercas que os prendem ao egoísmo de si mesmos.