17.6.07

O mal e o bem são conceitos definidos pelo humano ou são categorias acima das desavenças mortais?
Particularmente, não vejo motivos para crer que existam forças definidas acima dos limites definidores do humano. Em outras palavras, o tangível, o cognoscível, enfim, tudo aquilo que pode ser apreendido pela capacidade humana está dentro do domínio do humano.
"O inconcebível que se pode conceber não é o inconcebível", disse Lao Tzé.
Aquilo que está fora do domínio humano é esse algo inconcebível, incognoscível, de jeito nenhum apreensível, não importa o quão grandiosas sejam as possibilidades humanas.
O mundo é traçado, delineado, estruturado de acordo com as necessidades humanas, as agruras do social e a historicidade das ações. É mutante, mutável, em constante transformação, e com ela vão as definições, os dogmas, as leis.
O domínio humano é constantemente recriado na realidade humana.
O incognoscível, não. Este é definido pelo não-ser, pelo não-existir, pela não-ação. A não-ação é que lhe dá forma, que lhe dá conteúdo, que lhe confere presença.
Presença, mas não cognoscidade.
O que é inconcebível não pode ser definido, nomeado, datado, historicizado. As categorias humanas devem se restringir ao domínio humano. O além-humano fica fora da concepção humana de existência, ou mesmo de não-existência.
E, mais incrível, essa totalidade à parte do mundo humano nos preenche, completa nossa existência pela noção de não-existência, confere sentido à nossa vida pela idéia de não-sentido. O ser, o falar, o agir, o simplesmente viver, tudo se define pelo seu complementar, que não pode ser apreendido.
O viver é navegar por entre esses espaços intangíveis. Um fluxo perpétuo de trajetos inalcançáveis. O viver humano, por curto, completa-se junto à noção de infinito. Ambos, existir e não-existir, existir curto e existir infinito, convivem no universo particular humano.