28.7.06

O retorno - 7

Discurso vazio e outros negócios. Recentemente, abandonei a comunidade “Academês e discurso vazio”, no Orkut. Abandonei porque percebi que não correspondia às minhas expectativas. Quando me juntei a ela, achei que seria uma boa idéia. Achei engraçado essa coisa de brincar com o discurso vazio que é veiculado nos meios de comunicação de massa, esse discurso vazio de que se aproveitam (muitas vezes, mas não sempre) veículos como a Veja, Primeira Leitura, Mídia sem Máscara etc., de um lado, e Caros Amigos, Carta Capital etc., do outro lado. Porque, como um participante da comunidade de história do Orkut disse certa vez, “a burrice não tem ideologia”. Ta certo. A imbecilidade pode vir tanto da direita quanto da esquerda ou do centro. No mesmo sentido, a genialidade não tem ideologia. Há gente boa conservadora, há gente boa esquerdista. (Uma opinião pessoal: a imbecilidade da direita é muito mais engraçada que a da esquerda, por um simples motivo: a imbecilidade da direita, muitas vezes, apóia-se sobre um discurso cheio de palavras bonitas, construções gramaticais arrojadas, mesóclises, citações em francês, latim e grego arcaico, enquanto o discurso da esquerda é mais no sentido “cuba é bom pra caralho, seus filhos-da-puta!”. Como disse outro participante da comunidade de história do Orkut, o professor da Unicamp Leandro Karnal, “imbecilidade com citação em latim continua sendo imbecilidade. Olavo de Carvalho é papo de botequim com citação em latim”. Isso foi muito engraçado. Mas deixa pra lá.) Voltando ao início do texto: abandonei a comunidade sobre discurso vazio porque me decepcionei com ela. Minha intenção era brincar com o vazio dos discursos, mas não era nessa direção que os debates rumavam. A comunidade estava dominada por um grupo de “gênios” que se considerava detentor da verdade. Não estavam preocupados com o discurso vazio em si, estavam preocupados com qualquer discurso que contrariasse suas opiniões, suas ideologias, seus preconceitos. Qualquer discurso da direção política oposta era logo tachado de vazio, ignorante ou ridículo. O que é isso? O que é essa tomada de posição surda e burra? O que é esse dogmatismo que impede a percepção de coisas boas no discurso do outro? O que é essa intolerância que proíbe o aproveitamento, por menor que seja, de qualquer informação que o outro divulgue? Essa tomada de posição, dogmática, obscura, leva muita gente a criticar autores que nunca leram. Muita gente critica Marx ou Adam Smith sem ler. Muita gente só enxerga o comunismo se vinculado ao stalinismo, da mesma forma que muita gente só vê o capitalismo vinculado às ditaduras nele construídas. Muitos “liberais” são bastante rápidos em apontar o dedo e destruir o discurso marxista, dizendo que tal discurso só serviu para matar milhões de pessoas num stalinismo sanguinário; ou seja, dizem que o marxismo necessariamente leva a uma ditadura sanguinária. Ao mesmo tempo, esses “liberais” apontam as maravilhas do capitalismo, se perceber a deturpação dos valores liberais mais sagrados, como a meritocracia, num mundo sujo onde o “quem indica” supera o mérito. Vice-versa: quantos “socialistas” adoram apontar as atrocidades do capitalismo, a miséria, a desigualdade social etc., enquanto só faltam ficar de quatro pro Fidel Castro? Desde quando uma ditadura pode ser justificada? Desde quando um governo sem liberdade de expressão pode ser considerado um governo justo? O espaço é pequeno, meu conhecimento idem, minha paciência idem, idem. Não conseguiria discorres sobre esse assunto sem explicitar ao máximo minhas paixões, minhas falhas e meus preconceitos. Sei que minha opinião desperta coceiras em ambos os lados. Não me considero de centro, nem me considero dono da verdade. Eu acredito num mundo onde as pessoas têm que lutar pra viver, um mundo onde o mérito seja valorizado. Acredito, também, num mundo de igualdade. Não uma igualdade de resultados, onde os que trabalham sustentam os preguiçosos e todos acabam comendo, mas num mundo de igualdade de condições, ou seja, num mundo onde todos possam ter condições de mostrar seu valor, de lutar, de batalhar etc. Acredito em elementos de ambos os lados. Gosto de certas coisas que aparecem na Veja e em certas coisas que aparecem na Caros Amigos. Talvez possa me considerar esquerdista, uma vez que não me considero conservador (acredito na legalização do aborto até determinado mês, no casamento civil homossexual, na liberdade total para as mulheres etc.). Mas meu esquerdismo não me impede que deboche de outros esquerdistas. Meu esquerdismo não vai me levar a construir um altar e idolatrar Marx, nem vai me causar um sentimento de anti-americanismo. Acredito na tolerância, no respeito e na responsabilidade da liberdade. Acredito que nenhum discurso é absoluto e detentor da verdade, pois somos seres limitados, capazes de enxergar sob uma única perspectiva, ainda que uma perspectiva em constante mutação. Se nenhum discurso é capaz de englobar o total, não serei eu aquele que irá desprezar o discurso do outro em nome da pureza de meu próprio discurso. Se estou certo ou se estou errado, é questão de perspectiva. E qualquer perspectiva bitolada vai dizer que estou errado, mesmo tendo lido somente até a quinta linha.
originalmente... www.porradaneles.zip.net, em 5/03/2006
Porque "imbecilidade não tem ideologia". Essa é uma ótima frase.

2 Comments:

Blogger Blog do João Maria andarilho utópico said...

Puta merda tu é professor de história. porra por este motiva e educação esta uma bosta.

16 abril, 2013 08:09  
Anonymous Anônimo said...

Também sou professor de história, e com certeza a educação não está uma b* por causa dos professores. Você é professor? Conhece nossa realidade? Já entrou em uma sala de aula com carteiras quebradas e pichadas, alunos indisciplinados, cortinas rasgadas e outros problemas bem piores? Se não, então não fale bobagens amigo!

02 março, 2015 10:38  

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