17.6.07

Alhos e Bugalhos

Circula por aí, no meio de algumas cabeças esquisitas, a idéia de que socialismo e nazismo são irmãos, ideologias semelhantes, de mesma origem, práticas parecidas e até bigodinhos idênticos (vide Hitler e Stálin). Não vou entrar no mérito da discussão. Particularmente, não cheguei perto de ser convencido pelos argumentos limitados, geralmente restritos a questões de caráter econômico. Como se a organização da economia de uma sociedade fosse suficiente para definir o caráter de sua política... Ainda mais se tratamos de nazismo e socialismo, estruturas dotadas de uma forte ideologia. Deixa quieto.
O que me deixou curioso, nessa discussão, foi a forte necessidade dessas pessoas em definir o regime com base no "ser". "Tal regime é de esquerda, aquele é de direita, esse outro é de centro"... Essa forma de encarar a história, esquematizada, a meu ver, empobrece a análise.
Chegar à definição do "ser" depende do conceito montado para o "ser". O que torna algo algo? Ou melhor, quando as práticas políticas, impregnadas de ideologia, deixam de ser ações isoladas e constituem um bloco homogêneo o bastante para identificar-se com uma única diretriz, que parece, muitas vezes, pairar acima dessas mesmas ações e orientar toda e qualquer discussão que se faça sobre tal política?
Problemão, esse. Não consigo conceber um sistema que simplesmente seja. Não consigo conceber uma classificação que priorize o ser de um sistema em relação às práticas perpetradas pelos agentes desse mesmo sistema. Essa discussão ("nazismo é de esquerda?") empobrece a análise a partir do momento em que a preocupação se desloca para a classificação conceitual de um sistema, e não para a discussão do conceito utilizado.
Acho mais saudável conduzir a discussão de outro modo. Levando-se em consideração as práticas que aproximavam ambos os sistemas (nazismo e socialismo) e as que os afastavam. Levando-se em consideração as semelhanças entre outros sistemas (como nazismo e capitalismo) e as que também os separam. E, principalmente, levando em consideração que todo sistema real é fruto de experiências históricas que o definem de maneira única, enquanto processos em que os agentes têm papel relevante, num eterno conflito entre condicionantes e individualismo, ou entre continuidades e contingências, pra pegar emprestadas as palavras de John Gaddis.
Enfim, não gosto desse tipo de discussão, a não ser como material pra atualizar o blog, hehehe. Mas uma coisa é certa: os argumentos são por demais divertidos. Vale a pena uma conferida.

1 Comments:

Blogger Renata said...

Cristalizar conceitos é um limitar nao só dos olhos, como dos ouvidos. E tudo isso cala a boca. Enfim,estamos dentro demais pra enxergar claramente o que as coisas foram realmente e cedo demais pra saber como elas serão

=)

18 junho, 2007 15:26  

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