22.6.07

Ele outra vez.

Falei sobre a passagem do tempo uns posts atrás. Falei obviedades, mas falei. Todo mundo fala sobre o tempo, todo mundo tem algo a dizer sobre o tempo. Mesmo que às vezes a fala não apareça evidente, todos estão sempre dizendo algo.
O que incomoda na passagem do tempo (dentre centenas de outros incômodos...) é a sensação de incompletude, a que me referi no dito post. Outro incômodo bastante irritante é a sensação de perda.
Perda pode ser entendida por múltiplos significado. Aqui, refiro-me à perda de si próprio. Perda de um ser que, à passagem do tempo, se dilui pra transformar-se em outro ser. O que não implica necessariamente em evolução.
Agora que já fiquei mais velho, e o momento-reflexão sobre o tempo se refere a esse evento, certos aspectos da minha vida ficam claros para mim.
Fui algo. Claro que fui. Mas agora, cada vez mais, cada dia a mais, não me enxergo nesse que fui. Sou outro a cada momento que passa. E não estou gostando disso.
Antes, meus sonhos serviam a um propósito. Não me preocupava exatamente com a realização deles, com a sensação de chegada ao pódio, de dever cumprido. Não. Mais do que isso, o que me importava era o caminho que percorreria até o sonho. Me interessava aprender nesse caminho. Experimentar. Tentar. Errar. Assumir os erros, aprender e consertar. Era isso que me realizava, a cada pequeno passo que eu dava em direção aos meus sonhos.
Eu dizia: "quero lançar um livro antes dos 20 anos!". Pois os 20 vieram e não me chateei. nem com os 21. Não havia lançado livros, mas havia aprendido muito nas tentativas. Errei horrores, e não me refiro só ao português. Mas foram erros valorosos.
Só agora percebo o quanto esse modo de viver e de encarar a vida me era importante. Agora que o perdi. Cada vez mais me percebo interessado nas realizações. Cada vez menos interessado no esforço, na vontade, nas tentativas do caminho.
A realização, por si própria, não deveria ser um ponto de chegada, mas um descanso na estrada rumo a um destino inatingível. Destino nem por isso, claro, pouco atraente. Pelo contrário. Sempre vi a sensação de destino inatingível como estimulante, como um meio de se aprender para sempre, sem ponto de chegada onde a corrida acabasse, sem teto onde batesse com a cabeça.
Preciso voltar a essa sensação. Claro. E isso só pode ser conseguido com a mesma passagem do tempo que me mudou. Ou melhor, o modo como encaro a passagem do tempo. Não como inimiga, mas como um infinito caminho que me convida a correr. Ou andar. A passagem do tempo, a sensação de tempo passado, nada disso pode ser um desestimulante, tampouco pode ser um "apressante". Não posso correr com meus sonhos só porque o tempo passa e, talvez, não os consiga realizar. Não posso correr porque perderia a paisagem da corrida, os buracos, os erros, as tentativas... Tudo isso que, até poucos anos atrás, era o que realmente importava pra mim nessa busca adoidada que é a vida.