25.6.07

Confiança.

Esse texto abaixo é sobre o significado da palavra "confiança". Foi escrito há um tempinho, não sei quando. Talvez eu não concorde, hoje, com alguns pedaços. Mas mantive o original, modificando apenas algumas passagens para melhor entendimento. Uma vez que está fora de seu contexto original, muito mais amplo e cansativo de se ler, procurei resumir ao máximo alguns parágrafos. É isso.

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Confiança. É disso que se trata. A verdade é que jamais poderemos conhecer plenamente o que se passa ao nosso redor. O ser humano é decididamente limitado, sua perspectiva abarca poucos aspectos da realidade. E esta realidade, ainda por cima, é mediada por uma gama de convicções, preconceitos, idéias pré-concebidas, teorias, imaginações, especulações e outras prerrogativas humanas. Uma percepção que traz a realidade limitada e mediada, já chegando a nós completamente disforme. Esta distorção é que levou tantos a defenderem a bandeira do relativismo absoluto, a negar a existência da realidade, a colocar na perspectiva humana a própria existência fora do humano. Estão errados: há algo que é, algo que existe. As interpretações sobre esta existência, essas sim, todas no domínio humano, carregada desses problemas todos, é que, ao confundirem-se com a realidade, influem sobre nosso julgamento.

É uma realidade inatingível, a não ser por mecanismos que acabam por deformá-la. Como pode, então, o homem acreditar que sabe tanto? Como pode o homem transformar em regra geral, em universal, em científico aquilo que ele enxerga de um ponto tão particular frente à totalidade? A resposta é só uma: não pode. O homem apenas pensa que pode devido à carga de arrogância, petulância, megalomania e outras características que animam sua carcaça e dão energia à sua alma, uma energia de potência pronta a explodir.

O homem, ser limitado, crê poder dominar tudo ao seu redor. E esse é o problema. Não pode, simplesmente não pode. É impossível segurar com destreza todos os acontecimentos da vida. É impossível firmar as mãos nessas rédeas, agarrar essa roda da fortuna que gira com tamanha violência e tenta nos arrancar de sua presença a todo momento. O homem julga-se Príncipe maquiavélico e não passa de bobo da corte. Nem o próprio Príncipe seria capaz de tamanha façanha. Não há virtu bastante para nos dar plena ciência do que se passa ao nosso redor. E aí é que entra esse estranho artifício humano, essa estranha ferramente chamada confiança.

Confiamos estar certos. Confiamos ser capazes de realizações. Confiamos poder controlar o incontrolável, domar o selvagem, conquistar o maravilhoso. O indiferente nos ofende, porque confiamos ser os mais importantes que já passaram por essa Terra. E é por confiança que se erguem os alicerces de qualquer relacionamento. É nessa coisa fina, transparente, meio frágil, chamada confiança.

Confiamos que não seremos traídos. E, engraçado, o simples ato de confiar já abre a possibilidade de estarmos errados e de sermos traídos. Confiamos, mas não podemos ter certeza. Se temos certeza, se sabemos pra quem nossa namorada liga, por onde nosso namorado anda, com quem nossa esposa trabalha, de quem é aquele recado pro marido, então deixa de ser confiança. Se sabemos, ou pensamos saber, tudo que se passa na vida de nossos cônjugues; se só acreditamos no companheiro, na companheira, porque nos sentimos capazes de conhecer cada passo dado durante o dia, deixa de ser confiança.

Confiamos exatamente porque existe essa névoa que encobre parte do relacionamento. Confiamos que nessa névoa não existem monstros, não há abismos, há chão firme. Confiamos e entramos de cabeça na névoa, sabendo que não haverá o que nos machuque, ou imaginando saber que sairemos ilesos.

O ato de confiar traz a chance de se machucar. Confiamos, e confiar pode levar à dor da mesma forma que a vida, invariavelmente, leva à morte. Mas não deixamos de confiar, precisamos confiar, assim como precisamos continuar vivendo, mesmo sabendo que iremos morrer. E confiar é saber das limitações do companheiro. Confiar no amigo não é pensar que ele é capaz de fazer tudo, mas entender que há coisas que ele pode não conseguir fazer. Isso é confiança. O resto é uma cegueira apaixonada que não levará a lugar algum, senão ao arrependimento e ao mal falatório sobre os perigos de se confiar.

Confio nela, ela confia em mim. Confio neles, eles confiam em mim. Confio em minha ciência, em minhas ideologias, em minhas capacidades. Confio, redudantemente, em minhas crenças. Mesmo que haja esses pontos obscuros, essa parte escura que provavelmente jamais será iluminada.

1 Comments:

Blogger Let's said...

é como disse o filósofo Jagger: você não pode ter tudo o que quer.
bjus!

28 junho, 2007 11:01  

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